O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 9 / 111

Então, Banford voltou a chamá-la.

Assim, ela voltou para casa. Estava silênciosa, atarefada. Examinou e limpou a arma, perdida em abstratos devaneios, a mente divagando à luz da lâmpada. E depois voltou a saír, ao luar, para ver se estava tudo em ordem. Mas quando viu as cristas negras dos pinheiros recortadas no céu sanguíneo, o coração acelerou-se-lhe de novo batendo pelo raposo, sempre pelo raposo. E teve vontade de retomar a sua busca, de espingarda na mão.

Passaram alguns dias antes de ela mencionar o caso a Banford. Então, uma tarde, disse de súbito:

- Na noite de sábado passado, o raposo esteve mesmo ao pé de mim.

- Onde? - disse Banford, abrindo muito os olhos por detrás dos óculos.

- Quando estava ao pé da lagoa.

- Deste-lhe um tiro? - gritou Banford.

- Não, não dei.

-Porque não?

- Bem, suponho que fiquei demasiado surpreendida, só isso.

Era esta a velha maneira de falar que March sempre tivera, lenta e lacónica. Banford observou a amiga por alguns instantes.

- Mas viste-lo? - exclamou ela.

- Claro que sim! Ele estava a olhar para mim, impávido e sereno, como se não fosse nada com ele.

- Não me digas! - gritou Banford. - Que descaramento! Não têm medo nenhum de nós, Nellie, é o que te digo.

- Lá isso não - disse March.

- Só é pena que não lhe tenhas dado um tiro - acrescentou Banford.

- Sim, é pena! Desde então que tenho andado à procura dele. Mas não creio que volte a aproximar-se tanto da próxima vez.

- Sim, também acho - concordou Banford. E esforçou-se por esquecer o caso, apesar de se sentir mais indignada do que nunca com o atrevimento daqueles ratoneiros. March também não tinha consciência de andar a pensar no raposo.





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