A Cidade e as Serras - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 140 / 238

.. Nem só de arroz com fava vive o Homem! Mas demoro em Lisboa, para conversar com o Sesimbra, o meu administrador. E também à espera que estas obras acabem, os caixotes surjam, e eu possa voltar decentemente, com roupa lavada, para a trasladação...

- É verdade, os ossos... - Mas resta ainda o Grilo... Que animal! Por onde andará esse perdido?

Então, passeando lentamente na sala enorme, onde a vela de sebo derretida no castiçal de lata era como um lume de cigarro num descampado, meditámos na sorte do Grilo. O estimado negro ou fora despejado nas lamas de Medina, com as vinte e sete malas, aos gritos - ou, regaladamente adormecido, rolara com o Anatole no comboio para Madrid. Mas ambos os casos apareciam ao meu Príncipe como irremediavelmente destruidores do seu conforto...

- Não, escuta, Jacinto... Se o Grilo encalhou em Medina, dormiu na fonda, catou os percevejos, e esta madrugada correu para Tormes. Quando amanhã desceres à estação, às quatro horas, encontras o teu precioso homem,

com as tuas preciosas malas, metido nesse comboio que te leva ao Porto e à Capital...

Jacinto sacudiu os braços como quem se debate nas malhas de uma rede: - E se seguiu para Madrid? - Então, por esta semana, cá aparece em Tormes, onde encontra ordem para regressar a Lisboa e reentrar no teu séquito... Resta o interessante caso das minhas bagagens. Se amanhã encontrares na estação o Grilo, separa a minha mala negra, e o saco de lona, e a chapeleira. O Grilo conhece. E pede ao Pimenta, ao gordalhufo, que me avise para Guiães. Se o Grilo aportar Tormes, esfogueteado de Madrid, com toda essa malaria, deixa as minhas coisas aqui, ao Melchior... Eu amanhã falo ao Melchior.

Jacinto sacudiu furiosamente o colarinho: - Mas como posso eu partir para Lisboa, amanhã, com esta camisa de dois dias, que já me faz uma comichão horrenda? E sem um lenço.





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