A Cidade e as Serras - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 196 / 238

Mas, mal eu me chegara à varanda, apareceu justamente na volta. da estrada Jacinto, de grande chapéu de palha, na sua égua, seguido do Grilo, que se escarranchava, sobre o albardão da velha égua do Melchior, também de chapéu de palha, e abrigado sob um imenso guarda-sol verde. Atrás, um rapaz com uma maleta à cabeça. E eu, na alegria de avistar enfim o meu Príncipe trotando para a minha casa de aldeia, no dia dos meus trinta e seis anos, pensava noutro natalício, no dele, em Paris, no 202, quando, entre todos os esplendores da Civilização, nós bebemos tristemente ad manes, aos nossos mortos!

- Salve! - gritei da varanda. - Salve, domine Jacinthe! E entoei para o acolher, num alegre tarantantan, o «Hino da Carta»! - Isto por aqui também é lindo! - gritou ele de baixo. E o teu palácio tem um soberbo ar... Por onde é a porta?

Mas eu já me precipitava para o pátio - onde Jacinto, apeando, contou alegremente os tormentos do Grilo, que nunca montara a cavalo, e não cessara de berrar perante os perigos daquela aventura.

E o digno preto, ofegante, lustroso de suor, e lívido sob o esplendor da sua negrura, exclamava, apontando com a mão trémula para a pobre égua, que solta, de cabeça pensativa, parecia de pedra, sobre as patas mais imóveis que marcos:

- Pois se o siô Fernandes visse! Uma fera, que nunca veio quieta. Sempre para a esquerda, sempre para a direita, Pé aqui, pé além! Só para me sacudir! Só para me sacudir!

E não resistiu. Com a ponta do guarda-sol atirou uma pontoada vingativa contra a égua, sobre o albardão.

Subindo a escadaria ligeira, penetrando no alegre corredor, com a sua janela ao fundo engrinaldada de roseirinhas, Jacinto louvava grandemente a nossa casa, que o repousava das rijas muralhas, das grossas portas feudais de Tormes.





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