A Carta Roubada - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 9 / 19

- Nesse caso - respondeu Dupin abrindo uma gaveta e tirando um livro de cheques -, pode ir preenchendo um cheque em meu nome com a quantia mencionada. Quando o tiver assinado, entrego-lhe a carta.

Fiquei boquiaberto. Quanto ao prefeito, parecia que lhe caíra um raio em cima. Durante longos minutos não falou nem se mexeu a fitar o meu amigo de boca aberta e olhos que pareciam querer saltar das órbitas; depois, parecendo recuperar um pouco, agarrou numa caneta e, após várias pausas e hesitações; de olhos vazios, preencheu e assinou um cheque de cinquenta mil francos e estendeu-o a Dupin por cima da mesa. Dupin examinou-o cuidadosamente e guardou-o na carteira; depois, abrindo um escrito ire, tirou de lá uma carta e entregou-a ao prefeito. Este agarrou-a numa perfeita agonia de prazer, abriu-a com uma mão trémula, deu-lhe uma rápida vista de olhos e precipitando-se para a 'frente desapareceu da sala e da casa sem sequer se despedir e sem haver pronunciado uma única sílaba desde que Dupin lhe dissera para preencher o cheque.

Após a sua saída o meu amigo dignou-se dar-me algumas explicações. - A polícia de Paris - disse - é extremamente capaz à sua maneira.

É perseverante, engenhosa, cheia de astúcia, e perfeitamente ao corrente da rotina principal. Assim, quando G... contou em pormenor a maneira como passara busca à casa de D…, fiquei perfeitamente convencido de que a investigação fora bem feita no que respeitava ao trabalho feito.

- No que respeita ao trabalho feito? - disse eu.

- Sim - disse Dupin. - As medidas adoptadas foram não só as melhores no seu género, como levadas a cabo com a perfeição mais absoluta. Se a carta estivesse ao alcance deles não há dúvida que a encontrariam.

Limitei-me a rir, mas parecia que ele falava realmente a sério.

- As medidas - continuou ele - foram, pois, bem escolhidas e bem executadas; o seu efeito residia em serem inaplicáveis a este caso e a este homem. Um certo número de recursos muitíssimos astuciosos são, no caso do prefeito, uma espécie de leito de Procusta, ao qual ele adapta obrigatoriamente os seus planos.





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