O Escaravelho de Ouro - Cap. 1: O escaravelho de ouro Pág. 20 / 38

A caixa media três pés e meio de comprido, três de largura e dois e meio de altura. Estava solidamente amarrada por tiras de ferro forjado cravadas a toda a volta e que formavam uma espécie de grade. De cada lado do cofre, junto da tampa, havia três anéis de ferro - seis ao todo -, que lhe permitiam ser facilmente levantado por seis pessoas. As nossas forças reunidas conseguiram apenas deslocar ligeiramente o cofre do lugar em que assentava. Compreendemos imediatamente que nos era impossível levantar semelhante peso. Felizmente, a única coisa que segurava a tampa eram duas fechaduras de lingueta. Arrancámo-las, trementes e ofegantes de ansiedade. Um tesouro de incalculável valor jazia aos nossos pés. A luz da lanterna projectada sobre a cova, um monte confuso de ouro e pedras preciosas lançava mil reflexos, ferindo com o seu brilho os nossos olhos deslumbrados.

Não pretendo descrever os meus sentimentos perante tal espectáculo.

O espanto dominava, é claro, todos os outros. Legrand parecia exausto de excitação e proferiu poucas palavras. As faces de Júpiter estavam de uma palidez mortal, tanto quanto é possível um negro empalidecer. Parecia fulminado como se tivesse sido atingido por um raio. Caiu de joelhos no fundo da cova, e enterrando até aos cotovelos os braços nus no ouro, assim se deixou ficar como gozando os prazeres de um banho voluptuoso. Finalmente, com um profundo suspiro, exclamou numa espécie de solilóquio:

- E tudo isto vem do esca' avelho de ou' o, do lindo esca' avelho de ou' o, do esca' avelhinho que eu r' atei tão mal, coitadinho! Não tens ve' gonha de ti, neg' o? 'esponde, se és capaz!

Finalmente tornou-se necessário que eu arrancasse o amo e o servo àquele êxtase e que pensássemos na maneira de transportar o tesouro.