O poder analítico não deve ser confundido com o simples engenho; porque, enquanto o analista é necessariamente engenhoso, o homem engenhoso é muitas vezes incapaz de análise. A faculdade de combinação ou construtividade pela qual se manifesta geralmente o engenho e à qual os frenólogos - erradamente, creio eu - atribuem um órgão especial, supondo-a uma qualidade essencial, aparece frequentemente em seres cuja inteligência está nos limites do idiotismo, tendo despertado a atenção dos autores moralistas. Entre o engenho e a capacidade analítica há uma diferença muito maior que entre a fantasia e a imaginação, embora de um carácter rigorosamente análogo. É um facto que um homem engenhoso é sempre fantasista, enquanto o homem verdadeiramente imaginativo é, no fundo, um analista.
A narrativa que se segue será para o leitor como que um comentário que iluminará as afirmações acima feitas.
Morando em Paris durante a Primavera e parte do Verão de 18..., travei aí conhecimento com um Monsieur C. Auguste Dupin. Este jovem cavalheiro pertencia a uma família excelente, ilustre mesmo; mas uma série de acontecimentos desastrosos reduzira-o a tal pobreza que a energia do seu carácter chegou a sucumbir, a pontos de o fazer renunciar ao mundo e abandonar o desejo de recuperar a fortuna.