Capítulo 1: Os crimes da Rua Morgue
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E quando falo em dominar o whist refiro-me à perfeição do jogo que inclui uma compreensão de todas as fontes de onde pode derivar uma vantagem legítima. Estas não são apenas múltiplas como multiformes e situam-se muitas vezes nos recônditos do pensamento totalmente inacessíveis a uma inteligência vulgar. Observar com atenção é recordar com nitidez; e sob este ponto de vista o jogador de xadrez atento será também um jogador de whist; porque a regra de Hoyle (baseada no mero mecanismo do jogo) é geral e suficientemente acessível. Acontece assim que vulgarmente se considera jogar bem o ter uma memória fiel e obedecer ao manual. Mas é precisamente nos casos que a regra não prevê que o talento do analista se evidencia. Em silêncio procede a uma série de observações e deduções. Os parceiros fazem, talvez, o mesmo; e a diferença na quantidade de informação obtida reside não tanto no valor da inferência como na qualidade da observação. O importante é saber o que se deve observar. O jogador não se limita como tal; nem, apesar de ser o jogo o objecto principal da sua atenção, rejeita deduções suscitadas por coisas exteriores ao jogo. Observa a atitude do seu parceiro, comparando-a cuidadosamente com a dos adversários. Atende à forma como cada um dos jogadores ordena as cartas que tem na mão; e os olhares que os adversários lançam uns aos outros permitem-lhe muitas vezes contar os trunfos e as figuras que cada um deles possui. Nota todos os cambiantes do rosto à medida que o jogo avança e recolhe um capital de pensamento nas diferentes expressões de certeza, surpresa, triunfo ou desalento. Da maneira de apanhar uma vasa adivinha se a pessoa que a apanha pode ou não fazer outra de seguida. Reconhece as fintas pela maneira como a carta é atirada para a mesa.
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