William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 24 / 27

Fosse quem fosse Wilson, este, pelo menos, era o cúmulo da afectação ou da estupidez. Poderia ele convencer-se, por um instante que fosse, de que, no meu conselheiro em Eton, no homem que arruinara a minha reputação em Oxford, naquele que frustrara as minhas ambições em Roma, a minha vingança em Paris, o meu amor apaixonado em Nápoles ou aquilo a que ele falsamente chamava a minha avareza no Egipto, que neste meu inimigo jurado e meu génio maléfico existisse a possibilidade de eu não reconhecer o William Wilson dos meus tempos de escola - o homónimo, companheiro e rival-, o odiado e temido rival no colégio do Dr. Bransby? Impossível! Mas permitam-me que passe ao relato da cena final do drama.

Até então submetera-me inactivamente a este imperioso domínio. O sentimento de profundo respeito com que habitualmente encarava o carácter nobre, a importante sensatez, a aparente omnipresença e omnipotência de Wilson, acrescido mesmo de uma sensação de terror que certas outras características da sua natureza e determinados privilégios me inspiravam, tinham até ao momento feito radicar-se no meu espírito uma noção da minha extrema debilidade e impotência e haviam-me levado a uma submissão implícita, que no entanto me repugnava amargamente, à sua vontade arbitrária. Ultimamente, porém, tinha-me entregado completamente ao álcool, e a sua influência excitante sobre o meu temperamento hereditário tornava-me cada vez mais impaciente perante aquela vigilância. Comecei a murmurar, a hesitar, a resistir. E seria apenas a imaginação que me levava a crer que, à medida que a minha firmeza aumentava, a do meu carrasco sofria uma proporcional diminuição? Fosse como fosse, comecei a sentir a inspiração de uma esperança ardente e acabei por albergar no íntimo do meu espírito a firme e desesperada resolução de deixar de submeter-me a tal escravidão.





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