Até então submetera-me inactivamente a este imperioso domínio. O sentimento de profundo respeito com que habitualmente encarava o carácter nobre, a importante sensatez, a aparente omnipresença e omnipotência de Wilson, acrescido mesmo de uma sensação de terror que certas outras características da sua natureza e determinados privilégios me inspiravam, tinham até ao momento feito radicar-se no meu espírito uma noção da minha extrema debilidade e impotência e haviam-me levado a uma submissão implícita, que no entanto me repugnava amargamente, à sua vontade arbitrária. Ultimamente, porém, tinha-me entregado completamente ao álcool, e a sua influência excitante sobre o meu temperamento hereditário tornava-me cada vez mais impaciente perante aquela vigilância. Comecei a murmurar, a hesitar, a resistir. E seria apenas a imaginação que me levava a crer que, à medida que a minha firmeza aumentava, a do meu carrasco sofria uma proporcional diminuição? Fosse como fosse, comecei a sentir a inspiração de uma esperança ardente e acabei por albergar no íntimo do meu espírito a firme e desesperada resolução de deixar de submeter-me a tal escravidão.