A Origem da Tragédia - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 48 / 164

Quero recordar aqui um conhecido fenômeno dos nossos dias, que pode parecer contrário à nossa estética. Experimentamos sempre de novo como uma sinfonia de Beethoven impele os ouvintes a expressões figuradas, seja porque a composição dos diversos mundos de imagens, produzidos por uma sequência de sons, se comporte fantasticamente colorida ou, até, contraditória; exercer a respeito de tais composições sua pobre crítica, é não reparar no fenômeno que é facilmente explicável, isto é próprio daquela estética. Sim, mesmo quando o compositor se exprimiu em imagens sobre uma composição, como quando indica uma sinfonia como “Pastoral” e uma composição leve como “Cena junto ao ribeirinho”, uma outra como “Alegre reunião dos camponeses”, então todas estas são representações comparativas, nascidas da música — e não objetos imitados pela música — representações que nada nos podem ensinar sobre o conteúdo dionisíaco da música e que não têm valor exclusivamente ao lado de outras imagens. Este processo de uma descarga da música em imagens devemos transmitir, em mente, a uma multidão popular juvenil e criadora, no tocante à linguística, a fim de compreendermos a origem da canção popular em estrofes e como toda a riqueza idiomática se excita pelo novo princípio de imitação da música.

Se podemos considerar a poesia lírica como a fulguração imitativa da música em imagens e ideias, então perguntaremos: “como que cousa aparece a música no espelho da alegoria e das ideias?” Aparece como vontade, tomada a palavra em sentido Schopenhaueriano, isto é, como contraste da disposição estética, puramente contemplativa e involuntária.





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