A Origem da Tragédia - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 65 / 164

Capítulo 9

Tudo o que vem à superfície na parte apolínica da tragédia grega, no diálogo, apresenta-se-nos simples, transparente, belo. O diálogo é, neste sentido, a imagem do heleno, cuja natureza se externa na dança, por se resumir na dança a maior força potencial, que se descobre na flexibilidade e volúpia dos movimentos. Assim nos surpreende a linguagem de Sófocles por sua certeza e clareza apolínicas, de modo a julgarmos ver, imediatamente, até o fundo mais recôndito de seu ser, admirados mesmo de que o caminho até este fundo se nos apresente tão curto. Prescindindo por um momento do caráter do herói, que vem à tona, tornando-se visível — e que nada mais é do que uma figura luzente, projetada numa parede escura, isto é, aparência total —, e engolfando-nos no mito, que se projeta nestes claros reflexos, experimentamos de repente um fenômeno que está em relação inversa com um conhecido fenômeno ótico. Se nós, depois de termos experimentado fixar o sol a olho nu, nos volvermos como que ofuscados pelos raios solares, então teremos manchas coloridas, escuras diante da vista; que têm a função de remédio; invertamos, e aquelas figuras luzentes do herói de Sófocles, portanto o apolínico da máscara, são produções necessárias de um olhar ao interior e ao horrível da Natureza, são, comparativamente, manchas brilhantes para a cura de um olhar ferido pela noite terrível. Apenas neste sentido podemos crer que compreendemos bem o conceito sério e importante da “alegria grega”, enquanto que encontramos, o conceito mal entendido desta alegria, em estado de satisfação não temível, na atualidade, em toda parte.

A figura mais dolorosa do palco grego, o infeliz Édipo, foi compreendido por Sófocles como o homem nobre que, a despeito de seu saber, está destinado ao erro e à desgraça, mas que, finalmente, por seu sofrimento atroz, exerce em seu redor uma força mágica e bendita, cujo efeito ainda será sentido depois de sua morte.





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