Capítulo 12: Capítulo 12
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O homem nobre não peca, é isto o que expressa o poeta profundo; por sua ação pode desaparecer toda e qualquer lei, toda ordem natural, e mesmo o mundo moral. Precisamente por este modo de agir é que se traçará um círculo mágico, mais elevado de influências, influências estas que edificarão um mundo novo sobre as ruínas do velho e tombado . É isto o que o poeta, que é, ao mesmo tempo, pensador religioso, quer exprimir. Como poeta indica-nos em primeiro lugar um processo, maravilhosamente enredado, que lentamente o juiz desfaz membro por membro, para a sua própria perdição; a alegria, genuinamente helênica, nesta solução dialética é tão grande, que por este meio penetra em toda a obra uma réstia de alegria, que quebra o gume às horrorosas condições desse processo. No “Édipo em Colcha” encontramos semelhante alegria, realçada, porém, em uma transfiguração interminável. Contrapondo-se ao ancião atingido por um excesso de desgraças, que é abandonado a tudo que a ele se refere, como o sofredor — encontra-se a alegria supraterrestre que, baixando de esfera divina, nos indica atingir o herói em sua conduta puramente passiva, a sua maior atividade, que excede de muito a sua própria vida, enquanto que sua atividade e trabalho na vida precedente somente o conduziram à passividade. Assim se solta lentamente o nó do processo de Édipo, que estava enredado de modo insolúvel para a vista do mortal — e a mais profunda alegria humana de nós se apodera, nesta parelha divina da dialética. Se tivermos feito justiça ao poeta com esta declaração, ainda podemos ser inquiridos se, com isto, se esgotou o conteúdo do mito, e aqui percebe-se que toda a concepção do poeta não é mais do que, justamente, aquele quadro diáfano que nos apresenta a natureza sanativa depois de um olhar ao abismo.
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