A Origem da Tragédia - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 97 / 164

Pois agora o poeta virtuoso tem que ser dialético, agora se deve encontrar, entre virtude e saber, crença e moral, uma união necessária e visível; agora está rebaixada a solução transcendental de justiça de Ésquilo ao princípio superficial e insolente da “justiça poética” com seu “deus ex machina” usual.

Como aparece agora, de confronto com tal novo mundo cênico, socrático-otimista o coro e, em geral, todo o fundamento musical-dionisíaco da tragédia? Como algo casual, como uma reminiscência, talvez prescindível, à origem da tragédia; enquanto que reconhecemos que o coro somente pode ser compreendido como causa da tragédia e do trágico. Já em Sófocles se reconhece aquele embaraço no concernente ao coro — um sinal importante, demonstrando que nele principia a desmoronar-se a base dionisíaca da tragédia. Ele não ousa confiar ao coro a parte principal do efeito, mas limita o terreno deste de tal maneira, que ele parece agora quase coordenado aos artistas, como se fosse entrosado à cena pela orquestra, com que naturalmente se acha destruída, de modo total, a sua essência, mesmo que Aristóteles aplauda precisamente este modo de ver. Aquela mudança da posição do coro que Sófocles recomendou por sua prática e, se pudermos acreditar na tradição, mesmo por um escrito, constitui o primeiro passo à destruição do coro, cujas fases se sucedem com velocidade pasmosa em Eurípides, Ágato e na comédia mais recente. A dialética otimista afugenta com o açoite de seus silogismos a música da tragédia; isto é, ela destrói a essência da tragédia, essência que se pode interpretar somente como uma manifestação e configuração de estados dionisíacos, como simbolização visível da música, como o mundo de sonho da embriaguez dionisíaca.





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