Crepúsculo dos Ídolos - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 81 / 106

As épocas têm de ser medidas segundo as suas forças positivas - e, em meio a este critério, a época tão disposta à profusão e tão rica em fatalidades como o foi a Renascença aparece enquanto a última grande época, e nós, nós modernos, com nossos cuidados amedrontados em torno de nós mesmos e com nosso amor ao próximo, com nossas virtudes do trabalho, da ausência de requisições, da probidade, da cientificidade - compiladores, econômicos, maquinais - enquanto uma época fraca... Nossas virtudes são condicionadas, são requeridas por nossas fraquezas... A "igualdade", uma certa assemelhação factual que só ganha expressão no interior da teoria dos "direitos iguais", pertence essencialmente à decadência: o fosso entre homem e homem, estado e estado, a multiplicidade de tipos, a vontade de ser si próprio, de destacar-se, isto que denomino como o Pathos da Distância: tudo isto é próprio a todo tempo forte. A elasticidade, a envergadura entre os extremos vem se tornando hoje cada vez menor os extremos mesmo desaparecem por fim em meio à similitude... Todas as nossas teorias políticas e constituições de estado, o "império alemão" sem ser absolutamente excluído, são desdobramentos, consequências necessárias da decadência; o efeito inconsciente da decadência estendeu o seu assenhoramento até o cerne dos ideais das ciências particulares. A minha objeção contra toda a sociologia na Inglaterra e na França continua sendo o fato de ela só conhecer por experiência a conformação de declínio da sociedade e tomar de modo completamente inocente os próprios instintos decadentes enquanto norma dos juízos sociológicos de valor. A vida decadente, o definhamento de toda força organizadora, isto é, separadora, capaz de abrir fossos, subordinadora e hierarquizadora, formulou-se na sociologia de hoje como ideal... Nossos socialistas são decadentes, mas também Herbert Spencer é um decadente: ele vê na vitória do altruísmo algo digno de ser almejado!...





Os capítulos deste livro