Capítulo 10: Capítulo 10
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O definhamento dos instintos hostis e capazes de despertar desconfiança - e este seria propriamente nosso "progresso" - apresenta apenas uma das consequências do definhamento geral da vitalidade: custa cem vezes mais esforço, mais cuidado impor uma existência tão condicionada, tão tardia. Aí os homens se auxiliam mutuamente, aí todos estão até certo grau doentes e cada um é até certo grau enfermeiro. Isto significa então "virtude": dentre homens que conheceram a vida ainda de modo diverso, de modo mais pleno, mais pronto para a profusão, transbordantes, se teria denominado isto de outra forma, "covardia" talvez, "mesquinhez", "moral de velhas senhoras"... Nossa amenização dos costumes - esta é minha sentença, esta é, se se quiser, minha inovação - uma consequência da decadência; a rigidez e a terribilidade dos costumes pode ser inversamente uma consequência da super-abundância de vida: então também pode se ousar em verdade muitas coisas, se requisitar muitas coisas, se desperdiçar mesmo muita coisa. O que outrora era o tempero da vida, seria para nos um veneno... Ser indiferente - também esta é uma forma da força - para tanto somos igualmente muito velhos, muito tardios: nossa moral da compaixão, contra a qual fui o primeiro a advertir, isto que se poderia denominar como o impressionismo moral, é uma expressão mais da superexcitação fisiológica própria a tudo o que é decadente. Aquele movimento que foi tentado junto com a moral da compaixão de Schopenhauer, o projetar-se cientificamente - uma tentativa muito infeliz! - é o próprio movimento da decadência na moral, ele está enquanto tal profundamente aparentado com a moral cristã. As épocas fortes, as culturas nobres vêem na compaixão, no "amor ao próximo", na falta de si próprio e de amor próprio algo desprezível.
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