Odisseia - Cap. 16: Derrota dos Pretendentes, Vitória de Ulisses Pág. 123 / 129

Nessa noite, depois da ceia, os príncipes maldosos foram-se deitar. Aproveitando o sono de tão importunos hóspedes, Ulisses e Telémaco transportaram todas as armas que havia no palácio para quarto distante da sala comum. Cada um reservou para si um arco de boa madeira. Separaram-se depois: Telémaco para repousar. Ulisses para subir aos aposentos de Penélope, como prometera.

Estava Penélope no meio das suas aias trabalhando e conversando. Assim que Ulisses - sempre em figura de mendigo - entrou e a saudou, ordenou ela que trouxessem um banco revestido de fina pele de ovelha, e fê-lo sentar.

E, sem imaginar sequer que estava na presença do marido, tão lembrado e tão chorado, logo do marido ao próprio Ulisses pediu notícias. E Ulisses respondeu, mentindo:

- «Rainha, é muito difícil recordar-me dele, pois o não vejo há quase vinte anos. Veio então à minha terra, que se chama Creta, e nunca mais apareceu. No entanto, tentarei evocá-lo tal como o contemplei... Trajava um manto de rica púrpura, preso por duplo fecho de ouro, e bordado na frente; em baixo via-se pintado um cão de caça, segurando nos dentes a presa que ia devorar. Essa pintura era tão ao vivo, tão natural, que não se olhava sem deslumbrada admiração.





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