O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 141 / 279

- Gostaria que fosse toda minha - disse Eugène. - É encantadora.

- Teria uma propriedade bem triste -'disse, sorrindo amargamente. - Nada aqui lhe anuncia a desgraça e no entanto, apesar destas aparências, estou profundamente desesperada. As minhas tristezas não me deixam dormir, ficarei feia.

- Oh! Isso é impossível- disse o estudante. - Mas tenho curiosidade em conhecer essas penas que um amor devoto não apagaria?

- Ah! Se lhas confiasse, fugiria de mim - disse ela. - Só ama ainda por um galanteio que é hábito nos homens, mas se amasse um pouco, cairia num desespero terrível. Vê bem que devo calar-me. Por favor - continuou -, falemos doutra coisa. Vinde ver os meus apartamentos.

- Não, fiquemos aqui - respondeu Eugène, sentando-se num sofá em frente da lareira junto à senhora de Nucingen, tomando-lhe a mão com firmeza.

Ela deixou e apoiou-a até contra a do jovem com um desses movimentos de força concentrada que traem fortes emoções.

- Escute - disse-lhe Rastignac -, se tem tristezas, deve-me confiá-las. Quero provar-lhe que a amo por aquilo que é. Ou fala e me diz as suas penas para que eu as possa apagar, nem que seja preciso matar seis homens, ou sairei para não voltar mais.

- Pois bem! - gritou, tomada por um pensamento desesperado que lhe fez bater na testa. - Vou mesmo agora pô-lo à prova. Sim - disse -, nada mais interessa do que este momento. - Tocou uma campainha.

- O carro do senhor está atrelado? - disse ao criado de quarto.

- Sim, minha senhora.

- Vou levá-lo. Dar-lhe-á o meu e os meus cavalos. Só servirá o jantar às 7 horas.

- Então, venha - disse a Eugène, que pensava sonhar quando se viu no carro do senhor de Nucingen, ao lado desta mulher.

- Ao Palais Royal - disse ao cocheiro, perto do teatro francês.





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