Só quero que pense em mim a toda a hora, porque...
DELPHINE.
Esta última palavra fazia talvez alusão a algo que tivera lugar entre eles. Eugène ficou enternecido. Os brasões estavam esmaltados a ouro no interior da caixa. Essa jóia tantas vezes desejada, a corrente, a chave, a gravura, os desenhos respondiam a todos os votos dele. O pai Goriot estava radioso. Tinha talvez prometido à filha trazer-lhe os mais pequenos detalhes sobre a surpresa que causaria o presente dela em Eugène, pois estava em terceiro lugar nessas jovens emoções e não parecia por isso o menos feliz. Já amava Rastignac tanto pela filha como por si mesmo.
- Irá vê-la esta noite, ela está à sua espera. O brutamontes do Alsaciano janta na casa da bailarina dele. Ah, ah! Ficou bem surpreendido quando o meu advogado lhe disse as quatro verdades. Não pretende amar a minha filha até à adoração? Que toque nela e eu mato-o. A ideia de saber a minha Delphine a... (suspirou) far-me-ia cometer um crime, mas não seria um homicídio, ele é uma cabeça de cabrito num corpo de porco. Irá levar-me consigo, não é verdade?
- Sim, meu bom pai Goriot, sabe bem que o amo...
- Eu sei, não tem vergonha de mim, você! Deixe-me beijá-lo. - E apertou o estudante nos braços. - Irá torná-la bem feliz, prometa-me isso! Irá esta noite, não é verdade?
- Sim, sim! Devo sair em negócios que não posso adiar.
- Posso ser-lhe útil em alguma coisa?
- A bem dizer, talvez sim! Enquanto eu for a casa da senhora de Nucingen, ide a casa do senhor de Taillefer pai, dizer-lhe para me dar uma hora deste serão para lhe falar de um assunto da máxima importância.
- Seria então verdade, jovem rapaz - disse o pai Goriot, mudando de feições -, faria então a corte à filha dele, como o dizem aqueles imbecis lá em baixo? Com mil raios! Olhe que não sabe o que é levar um soco de Goriot.