- Ouça, senhor Eugène - gritou a senhora Vauquer -, parece que pôs a mão no sítio certo.
A esta interpelação, o pai Goriot olhou para o estudante e viu-lhe na mão a carta amachucada.
- Nem acabou de a ler! Que quer isto dizer? Será você como os outros? - perguntou-lhe ele.
- Senhora, nunca casarei com a menina Victorine - disse Eugène, dirigindo-se à senhora Vauquer com um sentimento de horror e de desgosto que surpreendeu os assistentes.
O pai Goriot pegou na mão do estudante e apertou-a. Teria querido beijá-la.
- Oh! Oh! - fez Vautrin. - Os Italianos têm uma boa expressão: col tempo!
- Espero uma resposta - disse a Rastignac o moço-de-recados da senhora de Nucingen.
- Diga que irei.
O homem saiu. Eugène estava num violento estado de irritação que não lhe permitia ser prudente.
- Que fazer? - dizia em voz alta, falando consigo próprio. - Não há provas!
Vautrin pôs-se a sorrir. Nesse momento a poção absorvida pelo estômago começava a fazer efeito. No entanto, o evadido era tão robusto que se levantou, olhou para Rastignac, e disse-lhe com uma voz cadavérica:
- Meu jovem, o bem vem quando dormimos. E caiu como uma estaca.
- Há então uma justiça divina - disse Eugène.
- Ora agora! Que lhe está a acontecer a este pobre querido senhor Vautrin?
- Uma apoplexia - gritou a menina Michonneau.
- Sylvie, vamos, minha filha, vai buscar o médico - disse a viúva.
- Ah! Senhor Rastignac, ide depressa a casa do senhor Bianchon, Sylvie pode não encontrar o nosso médico, o senhor Grimprel.
Rastignac, contente por ter um pretexto para deixar esta caverna assustadora, fugiu correndo.
- Christophe, vamos, acorre ao boticário pedir qualquer coisa para a apoplexia.