Christophe saiu.
- Mas, pai Goriot, ajudai-nos a transportá-lo lá para cima, para o seu quarto.
Vautrin foi levantado, manobrado por entre as escadas e posto em cima da cama.
- Se não lhes sirvo para nada, vou ver a minha filha - disse o senhor Goriot.
- Velho egoísta! - gritou a senhora Vauquer. - Vá, desejo que morras como um cão.
- Ide lá ver se tem éter - disse a senhora Vauquer a menina Michonneau, que ajudada por Poiret já tinha desapertado a roupa de Vautrin.
A senhora Vauquer desceu ao quarto e deixou a menina Michonneau a comandar as operações.
- Vamos, tirai-lhe a camisa e virai-o depressa! Veja se é útil a alguma coisa, evitando-me ver nudezes - disse ela a Poiret. - Está para aí especado.
Vautrin virado, a menina Michonneau deu uma violenta palmada no ombro do doente e as duas letras fatais apareceram em branco no meio da placa vermelha.
- Olhe ganhou bem facilmente a sua gratificação de 3000 francos gritou Poiret segurando Vautrin em pé, enquanto a menina Michonneau lhe voltava a pôr a camisa. – Uf! É pesado - disse ele, deitando-o.
- Calai-vos. Se houvesse aqui dinheiro? - disse rapidamente a rapariga cujos olhos pareciam furar as paredes de tanto examinar com avidez os mais pequenos móveis do quarto. - Se conseguíssemos abrir esta secretária, sob qualquer pretexto? - continuou ela.
- Talvez não fosse lá muito correcto - respondeu Poiret.
- Não. O dinheiro roubado, tendo pertencido a todos, não é de mais ninguém. Mas falta-nos tempo - respondeu. - Ouço a Vauquer.
- Aqui está o éter - disse a senhora Vauquer. - Ora esta, hoje é o dia das aventuras. Meu Deus! Este homem não pode estar doente, está branco como um frango.
- Como um frango? - repetiu Poiret.
- O coração dele bate regularmente - disse a viúva, pondo-lhe a mão no coração.