- Este pobre pai!
- Se soubesses, minha filha - disse levantando-se e indo ter com ela, pegando-lhe na cabeça e beijando-a no meio das tranças -, como me podes tornar feliz com tão pouco! Vem ver-me algumas vezes, estarei lá em cima, só terás de dar um passo. Promete-me, diz-me!
- Sim, meu querido pai.
- Diz outra vez.
- Sim, meu bom pai.
- Cala-te, far-te-ia dizê-lo cem vezes se não me controlasse. Jantemos.
O serão foi todo gasto em brincadeiras, e o pai Goriot não foi o menos doido dos três. Deitava-se aos pés da filha para os beijar, olhava-a longamente nos olhos, roçava a cabeça no vestido dela, enfim fazia doidices como as teria feito o amante mais jovem e mais ternurento.
- Está a ver? - disse Delphine a Eugène. - Quando meu pai está connosco, temos de ser completamente dele. Irá ser muito incomodativo por vezes.
Eugène, que tinha sentido por vezes movimentos de ciúmes, não podia criticar esta palavra, que englobava o princípio de todas as ingratidões.
- E quando é que o apartamento ficará pronto? - disse Eugène, olhando à volta do quarto. -Temos mesmo de nos separar esta noite?
- Sim, mas amanhã virá jantar comigo - disse com um ar malandro.