O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 210 / 279

- Querido pai, é meu pai! Não, não existem dois pais como este na terra. Eugène já o amava tanto, que dizer agora!

- Mas, meus filhos - disse o pai Goriot que há dez anos não tinha sentido o coração da filha bater junto do seu. - Mas, Delphinette, queres então fazer-me morrer de alegria! O meu pobre coração quebra-se. Vá, senhor Eugène, já estamos quites! - E o velhote apertava a filha com um abraço tão selvagem, tão delirante que ela disse:

- Ah! Está a magoar-me!

- Magoei-te! - disse este, empalidecendo. Olhou para ela com um ar de dor sobre-humano. Para bem pintar a fisionomia deste Cristo da Paternidade, seria preciso ir buscar comparações às imagens que os príncipes da paleta inventaram para pintar a paixão sofrida em benefício dos mundos pelo Salvador dos homens. O pai Goriot beijou bem devagar a cintura que os dedos tinham apertado demasiado.

- Não, não, não te magoei - continuou, questionando com um sorriso. - Foste tu que me fizeste mal com o teu grito. Custa mais caro disse ao ouvido da filha, beijando-a com precaução. - Mas tem de se agarrá-lo, senão iria zangar-se.

Eugène estava petrificado pela dedicação inesgotável desse homem e contemplava-o, exprimindo essa admiração ingénua que, na tenra idade, reside na fé.

- Serei digno de tudo isto - disse ele.

- Oh, meu Eugène, como é belo que acabou de dizer. - E a senhora de Nucingen beijou o estudante na testa.

- Recusou por ti a menina Taillefer e os milhões dela - disse o pai Goriot. - Sim, ela amava-o, a pequena, e, com o irmão morto, ei-la rica como Cresus.

- Oh! Porquê dizê-lo? - gritou Rastignac.

- Eugène - disse-lhe Delphine ao ouvido -, agora tenho um remorso por esta noite. Ah! Eu irei amá-lo bem! E para sempre.

- Aqui está o mais belo dia que já tive desde os vossos casamentos gritou o pai Goriot.





Os capítulos deste livro