Eugène ouviu o som pesado dos joelhos do pai Goriot, que parecia ter caído no chão do quarto.
- Meu Deus, que te fiz? A minha filha nas mãos desse miserável, ele irá exigir tudo dela se o quiser. Perdão, minha filha! - gritou o velhote.
- Sim, se estou num abismo sem fundo, talvez seja um pouco por sua causa - disse Delphine. -Temos tão pouca razão quando nos casamos! Conhecemos o mundo, os negócios, os homens, os costumes? Os pais deviam pensar por nós. Querido pai, não estou a recriminá-lo de nada, perdoai-me estas palavras. Neste assunto a culpa é toda minha. Não, não chore, meu pai - disse, beijando a testa do pai.
- Não chores tu também, minha pequena Delphine. Dá-me os teus olhos, que eu os limpo com beijos. Vá! Vou recobrar os espíritos e desembaraçar a embrulhada de negócios que o teu marido engendrou.
- Não, deixai-me fazer, eu saberei manobrá-lo. Ele ama-me, pois bem, utilizarei o meu poder sobre ele para o levar a colocar-me rapidamente alguns capitais em propriedades. Talvez lhe consiga fazer-me comprar em meu nome de Nucingen, na Alsácia, ele tem isso a peito. Venha só amanhã para examinar os livros dele, os negócios. O senhor Derville não percebe nada sobre o comércio.