O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 224 / 279

- Não queria confessar-vos isso para lhe poupar a tristeza de me ter casado com um homem dessa espécie! Hábitos secretos e consciência, alma e corpo, tudo nele se conjuga! É assustador, odeio-o e desprezo-o. Sim, não posso mais ter estima por esse vil Nucingen após tudo o que me disse. Um homem capaz de se atirar às operações comerciais de que me falou não tem a menor delicadeza, e os meus receios vêm do facto de ter perfeitamente lido no coração dele. Propôs-me nitidamente, ele, meu marido, a liberdade, sabe o que isso significa? Se quisesse ser, em caso de desgraça, um instrumento nas mãos dele, enfim se lhe queria servir de garantia.

- Mas as leis existem para isso! Mas há uma execução capital para os genros dessa espécie - gritou o pai Goriot. - Mas eu próprio lhe cortarei a cabeça se não-existir carrasco.

- Não, meu pai, não existem leis contra ele. Ouvi em duas palavras a linguagem dele, limpa das perífrases que utilizava: «Ou tudo está perdido, não tem um cêntimo, está arruinada; pois não saberia escolher para cúmplice outra pessoa; ou me deixa então conduzir a bem as empresas.» É claro? Ainda precisa de mim. A minha probidade de mulher reconforta-o, ele sabe que lhe deixarei a fortuna dele e irei contentar-me com a minha. É uma associação imprópria e um roubo ao qual devo consentir sob pena de estar arruinada. Ele compra a minha consciência e paga-a deixando-me à vontade ser mulher de Eugène. «Permito-te cometer erros, deixa-me fazer crimes arruinando pobres pessoas!» Esta linguagem já é suficientemente clara? Sabe o que é que ele chama de operações? Compra terrenos sem nada com o nome dele depois manda lá construir casas por testas-de-ferro. Esses homens concluem os negócios para as construções com todos os empreiteiros,





Os capítulos deste livro