- Então - disse-lhe Eugène -, deitai-vos de novo, meu bom pai Goriot, vou escrever-lhes. Mal Bianchon volte, irei se elas não vierem.
- Se elas não vierem? - repetiu o velhote, soluçando. - Mas estarei morto, morto num acesso de raiva, de raiva! A raiva está a tomar conta de mim! Neste momento, vejo toda a minha vida. Sou cego! Elas não me amam, elas nunca me amaram! Isso é claro. Se elas não vieram, não virão mais. Quanto mais tardarem, menos se decidirão a dar-me essa alegria. Conheço-as. Nunca souberam nada adivinhar sobre as minhas tristezas, as minhas dores, as minhas necessidades, não adivinharão por isso a minha morte, nem sequer estão no segredo da minha ternura. Sim, vejo-o, para elas, o hábito de me abrir as entranhas tirou preço a tudo o que eu fazia. Teriam pedido para me furar os olhos, que eu teria respondido: «Furai!» Sou demasiado estúpido. Pensam que todos os pais são como o delas. Temos sempre de nos valorizar. Os filhos delas irão vingar-me. Mas é no interesse delas vir aqui. Preveni-as então que comprometem a agonia delas. Cometem todos os crimes num só. Mas ide então. Dizei-lhes então, que não vir é um parricídio! Já cometeram bastantes para terem de acrescentar este. Gritai como eu: «Hem, Nasie! Hem, Delphine! Vinde junto de vosso pai que foi tão bom para vocês e que sofre!» Nada, ninguém. Irei morrer como um cão? Eis a minha recompensa, o abandono. São infames, malvadas; abomino-as, maldigo-as; levantar-me-ei de noite da tumba para voltar a maldizê-las, porque enfim, meus amigos, estarei errado? Elas conduzem-se bem mal! Não é verdade? Que estou a dizer? Não me avisou que Delphine estava aqui? É a melhor das duas.