O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 262 / 279

Mas será que elas não sabem o que é andar sobre o cadáver do próprio pai! Há um Deus nos céus, ele vinga-nos, quer queiramos quer não, a nós pais. Oh! Elas virão! Vinde, minhas queridas, vinde beijar-me mais uma vez, um último beijo, a extrema unção de vosso pai, que rezará a Deus por vocês, que lhe dirá que foram boas filhas, que vos defenderá! Ao fim ao cabo vocês são inocentes. Elas são inocentes, meu amigo! Dizei-o bem a todo o mundo, que não as incomodem por causa de mim. Tudo é da minha culpa, habituei-as a espezinharem-me, Eu gostava disso. Não diz respeito a ninguém, nem à justiça humana, nem à justiça divina. Deus seria injusto se as condenasse por causa de mim. Não soube conduzir-me, fiz a asneira de abdicar dos meus direitos. Ter-me-ia humilhado por elas! O que é que quer! O mais belo natural, as melhores almas teriam sucumbido à corrupção desta facilidade paternal. Sou um miserável, sou punido com justiça. Eu só causei as desordens das minhas filhas, mimei-as. Querem hoje o prazer, como ontem queriam bombons. Permiti-lhes sempre satisfazerem as suas fantasias de raparigas.

Aos 15 anos tinham carro! Nada lhes foi negado: Só eu sou culpado, mas culpado por amor. A voz delas abria-me o coração. Ouço-as, elas vêm. Oh! Sim, elas virão. A lei quer que se venha ver morrer o pai, a lei está do meu lado. Além do mais, custará apenas uma corrida. Pagarei. Escrevei-lhes a dizer que tenho milhões para lhe deixar! Palavra de honra. Irei fazer massas de Itália para Odessa. Conheço a forma. Há, no meu projecto, milhões a ganhar. Ninguém pensou nisso. Não se estragará durante o transporte como o milho ou como a farinha. Eh! Eh! O amido? Há ali milhões a ganhar! Não estará a mentir, dizei-lhe milhões, e mesmo que venham por avareza, prefiro ser enganado, irei vê-las.





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