O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 273 / 279

- Pobre senhor, está assim tão mal! - disse Thérèse.

- Já não precisam de mim, tenho de ir preparar o meu jantar, são quatro e meia - disse Sylvie que quase esbarrou no cimo da escada com a senhora de Restaud.

Foi uma aparição grave e terrível esta da condessa. Ela olhou para o leito de morte, mal iluminado com uma única vela e deitou lágrimas ao avistar a máscara do pai onde ainda palpitavam os últimos sobressaltos de vida. Bianchon retirou-se por discrição.

- Não me escapei a tempo - disse a condessa a Rastignac.

O estudante fez um sinal afirmativo cheio de tristeza. A senhora de Restaud pegou na mão do pai, beijou-a.

- Perdoai-me, meu pai! Dizia que a minha voz o traria de volta do túmulo, pois bem! Voltai um momento à vida para benzer a sua filha arrependida. Ouvi-me. Isto é horrível! A sua bênção é a única que posso receber agora aqui em baixo. Todo o mundo me odeia, só o pai me ama. Mesmo os meus filhos me odiarão. Levai-me consigo, irei amá-lo, irei cuidar de si. Já não me ouve, estou doida.

- Caiu de joelhos e contemplou essa perda com uma expressão de delírio. - Nada falta à minha desgraça - disse, olhando para Eugène. - O senhor de Trailles foi embora, deixando aqui dívidas enormes, e soube que me enganava. O meu marido nunca me irá perdoar e deixei-o mestre e dono da minha fortuna. Perdi todas as minhas ilusões. Infelizmente! Para quem traiu o único coração (apontou para o pai) onde era adorada! Ignorei-o, rejeitei-o, fiz-lhe mil males, como sou infame!

- Ele sabia-o - disse Rastignac.

Nesse momento, o pai Goriot abriu os olhos, mas devido a uma convulsão. O gesto que revelava uma esperança da condessa não foi menos horrível de ver do que o olho do moribundo.

- Será que me ouve? - gritou a condessa.





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