«Não», pensou, sentando-se junto dele.
A senhora de Restaud manifestou o desejo de velar o pai; Eugène desceu para comer algo. Os pensionistas já estavam reunidos.
- Então! - disse-lhe o pintor. - Parece que temos lá em cima um pequeno mortorama?
- Carlos - disse-lhe Eugène -, parece-me que deveria brincar com outro assunto menos lúgubre.
- Já não podemos então rir aqui? - retomou o pintor. - O que é que importa, visto que Bianchon diz que o velhote já não está em si? - Pois bem! - retomou o empregado do Museu. - Morrerá como viveu.
- Meu pai está morto - gritou a condessa.
A este grito terrível, Sylvie, Rastignac e Bianchon subiram e encontraram a senhora de Restaud desmaiada. Após lhe ter feito recobrar os sentidos, transportaram-na para o fiacre que a esperava. Eugène entregou-a aos cuidados de Thérèse, dando-lhe ordens para a conduzir a casa da senhora de Nucingen.
- Oh! Morreu mesmo - disse Bianchon quando descia.
- Vamos, senhores, para a mesa - disse a senhora Vauquer. - A sopa vai arrefecer.
Os dois estudantes sentaram-se um ao lado do outro.
- Que temos de fazer agora? - disse Eugène a Bianchon.
- Mas fecha-lhe os olhos e arranja-o convenientemente. Quando o médico tiver constatado o óbito que iremos declarar, iremos tapá-lo com a mortalha e enterrá-lo. Que queres tu que lhe aconteça?
- Não cheirará mais o pão dele assim - disse um pensionista, imitando a careta do velhote.
- Com os diabos, senhores - disse o explicador. - Deixai em paz o pai Goriot e não nos obrigueis a comer mais disso, pois há uma hora que o pobre é revirado sob todos os ângulos. Um desses privilégios da boa cidade de Paris é que pode-se lá nascer, viver e morrer sem que ninguém repare em ninguém. Aproveitemos portanto as vantagens da civilização.
