O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 54 / 279

vêem sucesso em tudo, poetizam a existência apenas através da imaginação e ficam tristes ou infelizes quando os projectos correm ao contrário do esperado até então apenas nos desejos contidos; se não fossem ignorantes e tímidos o mundo social seria impossível. Eugène andava com mil cuidados para não se sujar, mas andava pensando naquilo que diria à senhora Restaud, abastecia o espírito, inventava - as respostas de uma conversa imaginária, preparava as palavras finas, as frases à Talleyrand, supondo pequenas circunstâncias favoráveis à declaração na qual fundava o seu futuro. Sujou-se, o estudante foi obrigado a mandar engraxar as botas e a escovar as calças no Palácio Real.

- Se fosse rico - disse, trocando uma moeda de trinta tostões que tinha trazido em caso de desgraça - teria ido de carro, teria podido pensar com mais calma.

Por fim chegou à Rua Helder e pediu para ver a condessa de Restaud. Com a raiva fria de um homem certo de triunfar um dia, recebeu o olhar de desprezo das pessoas que o tinham visto atravessar o pátio a pé, sem ouvir o barulho de um carro na porta. Esse olhar atingiu-o tanto que já tinha percebido a sua inferioridade ao entrar nesse pátio, onde campeava um belo cavalo ricamente atrelado a um desses cabriolés pomposos que exibem o luxo de uma existência dissipadora e subentendem o hábito de todas as felicidades parisienses. Ficou sozinho, de mau humor. As gavetas abertas do seu cérebro que pensava encontrar cheias de ideias fecharam-se e ficou estúpido. Enquanto esperava a resposta da condessa, a quem, um criado de quarto ia dizer os nomes do visitante, Eugène equilibrou-se num só pé em frente a uma janela da sala de espera antes do quarto, apoiou o cotovelo num fecho e olhou maquinalmente para o pátio.





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