Achava que a resposta tardava, teria ido embora se não estivesse dotado dessa tenacidade meridional que cria prodígios quando quer.
- Senhor - disse o criado de quarto -, a senhora está na sua salinha e muito ocupada não me respondeu, mas se o senhor quer passar ao salão, já lá está uma pessoa.
Enquanto admirava o espantoso poder dessas pessoas, que com uma só palavra acusam ou julgam os patrões, Rastignac abriu deliberadamente a porta pela qual tinha saído o criado de quarto, talvez para fazer crer a esses insolentes criados que conhecia as pessoas da casa, mas veio dar muito abalado a uma sala onde estavam candeeiros, buffets, um aparelho para aquecer toalhas para o banho e que ia dar ao mesmo tempo a um corredor escuro e uma escada escondida. Os risos abafados que ouviu na sala de espera aumentaram a sua confusão.
- Senhor, o salão é por aqui - disse-lhe o criado de quarto com esse falso respeito que parece mais ser um gozo.
Eugène voltou para trás com tal precipitação que chocou contra uma banheira, mas segurou a tempo o chapéu evitando que caísse no banho. Nesse momento, uma porta abriu-se no fundo do corredor iluminado por um candeeiro, Rastignac ouviu ao mesmo tempo a voz da senhora de Restaud, a do pai Goriot e o ruído de um beijo. Entrou na sala de jantar, atravessou-a, seguiu o criado de quarto e penetrou num primeiro salão onde ficou especado em frente a uma janela, apercebendo-se de que dava sobre o pátio. Queria ver se esse pai Goriot era realmente o seu pai Goriot. O coração batia-lhe de uma forma estranha, lembrava-se das abomináveis reflexões de Vautrin. O criado de quarto esperava Eugène à porta do salão, mas de repente saiu de lá um elegante jovem, que disse impacientemente:
- Vou-me embora, Maurício.