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- Então o quê, papá? - disse Vautrin, interrompendo-o.
- Então! Pagará isso bem caro um dia... .
- No Inferno, não é verdade? - disse o pintor. - Nesse pequeno recanto escuro onde se põe as crianças mal comportadas!
- Então, menina! - disse Vautrin a Victorine. - Não come? O papá não foi permissivo?
- Um horror - disse a senhora Couture.
- Tem de se lhe fazer ver a razão - disse Vautrin.
- Mas - disse Rastignac, que se encontrava bastante perto de Bianchon - a menina poderia levantar um processo com respeito ao problema da alimentação, visto não comer. Ah!, ah! Vejam como o pai Goriot examina a menina Victorine.
O velho esquecia-se de comer para contemplar a pobre jovem cujos traços explodiam de uma dor verdadeira, a dor da criança não reconhecida que ama o pai.
- Meu caro - disse Eugène em voz baixa -, enganámo-nos a respeito do pai Goriot. Não é nem um imbecil nem um homem sem sentimentos. Aplica-lhe o teu sistema de Gall e diz-me o que pensas disto. Vi-o esta noite desfazer um prato de cobre como se fosse cera e nessa altura o aspecto da cara dele traiu sentimentos extraordinários. A vida dele parece-me ser demasiado misteriosa para não valer a pena ser estudada. Sim, Bianchon, bem podes rir, que não estou a brincar.
- Este homem é um caso para a medicina - disse Bianchon. - Está bem, se queres, vou explorá-lo. - Não, apalpa-lhe a cabeça.
- Ah! Bem, a estupidez dele pode ser contagiosa.
Na manhã seguinte, Rastignac vestiu-se de uma forma bastante elegante e foi, por volta das 15 horas, a casa da senhora de Restaud, deixando-se levar por essas esperanças tão embriagantes quanto doidas que tornam a vida dos jovens cheia de belas emoções, não calculam nessa altura nem os obstáculos nem os perigos,