O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 96 / 279

Quereria trazer-lhes todas as felicidades juntas. 1550 francos! - pensou, após uma pausa. Cada moeda tem de ser um peso! Laure tem razão. Ora bolas! Só tenho camisas de tecido grosso. Para a felicidade de outrem, uma jovem rapariga torna-se tão astuta quanto o ladrão. Inocente para ela e prevenida para mim, é como o anjo do céu que perdoa as faltas da terra sem as compreender.

O mundo era dele! Já o seu alfaiate tinha sido convocado, estudado, conquistado. Ao ver o senhor de Trailles, Rastignac tinha compreendido a influência que exerciam os alfaiates sobre a vida dos jovens. Infelizmente! Não existe meio termo: um alfaiate é ou um inimigo mortal ou um amigo pago contra factura. Eugène encontrou no dele um homem que tinha compreendido a paternidade do seu comércio e que se considerava como um traço de união entre o presente e o futuro dos jovens. Assim, Rastignac reconhecido fez a fortuna deste homem por uma dessas palavras das quais se tornou perito mais tarde.

- Conheço-lhe - dizia - duas calças que fizeram casamentos de 20 000 libras de rendimento.

Mil e quinhentos francos e fatos à descrição! Neste momento, o pobre meridional não duvidou de mais nada e desceu para almoçar com esse ar indefinido que dá a um jovem a posse de uma soma qualquer. No momento em que o dinheiro escorrega para dentro do bolso de um estudante, levanta-se nele uma coluna fantástica na qual se apoia. Anda melhor do que antes, sente ter um ponto de apoio para a sua alavanca, tem o olhar preenchido, directo, movimentos ágeis; na véspera, humilde e tímido, teria recebido tareia; na manhã seguinte iria dá-la a um primeiro ministro. Passam por ele fenómenos incríveis: quer tudo e pode tudo, deseja a torto e a direito, está alegre, generoso, expansivo.





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