Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Se o presumível herdeiro precisar de lenços, é avisado que a velha senhora de Marcillac, dando uma volta nos seus tesouros e malas, designados pelo nome de Pompeia e Herculanum, descobriu uma peça de tela magnífica de holanda, que não conhecia, as princesas Agathe e Laure pegaram nos fios, agulhas e nas mãos sempre vermelhas de mais. Os dois jovens príncipes Henri e Gabriel guardaram o funesto hábito de se encherem de compota, só para aborrecerem as irmãs, não querem nada aprender, só brincar a procurar pássaros, fazer barulho e cortar, apesar das leis do Estado, vimes para fazerem pequenas tenazes. O núncio do papa, normalmente chamado de senhor padre, ameaça excomungá-los se continuam a deixar os santos cânones da gramática em prol dos cânones do sabugueiro belicoso. Adeus, querido irmão, nunca nenhuma carta levou tantos votos para a tua felicidade, nem tanto amor satisfeito. Terás então muitas coisas para nos contar quando vieres! Irás dizer-me tudo a mim que sou a mais velha. A tia deixou-nos adivinhar que tinhas tido sucesso no mundo. Fala-se de uma mulher e cala-se o resto.
Nós percebemos! Ouve Eugène, se quiseres, poderíamos utilizar os nossos lenços para te fazer camisas. Responde-me depressa acerca disto. Se precisares rapidamente de belas camisas bem cosidas, teríamos de pôr mãos à obra já, e se em Paris se usar algo que não conhecemos, enviavas um modelo, sobretudo para os punhos. Adeus, adeus! Mando-te um beijo na fonte do lado esquerdo, na têmpora que só a mim pertence. Deixo a outra folha para a Agathe, que me prometeu não ler nada do que escrevi para ti. Mas, para ter mesmo a certeza, ficarei perto dela enquanto ela te escrever. A tua irmã que te ama. LAURE DE RASTIGNAC. - Oh! Sim - disse Eugène -, sim, a fortuna a qualquer preço! - Tesouros não pagariam esta dedicação.
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