Estavam neste ponto do seu colóquio o duque, a duquesa e D. Quixote, quando ouviram muitos brados e grande rumor de gente, e entrou Sancho de corrida na sala, com uma rodilha atada ao pescoço, e atrás dele muitos bichos de cozinha, e outra criadagem miúda, um dos quais trazia um caldeirão de água, que, pela cor e pouca limpeza, mostrava ser de lavar a louça. Perseguia-o este, procurando pôr-lhe o caldeirão debaixo das barbas, ao passo que outro mostrava querer-lhas lavar.
— Que é isso, irmãos? — perguntou a duquesa — que quereis a esse bom homem? pois não considerais que está nomeado governador?
— Este senhor não se quer deixar lavar — respondeu o improvisado barbeiro — como é costume, e como se lavou o senhor duque, e o amo do senhor Sancho.
— Quero, sim — respondeu Sancho com muita cólera — mas desejaria que fosse com toalhas mais limpas e água mais clara, e com mãos menos sujas, que não há tanta diferença entre mim e meu amo, que a ele o lavem com água de anjos e a mim com a barrela do diabo.