— Bem conheço Ricote — disse então Sancho — e sei que é verdade o que ele diz, enquanto a chamar-se Ana Félix a sua filha; que nas outras baralhadas de ir e vir, ter boa ou má intenção, não me intrometo.
Admirados do estranho caso todos os presentes, disse o capitão-mor:
— As vossas lágrimas não me deixarão cumprir o meu juramento: vivei, Ana Félix, os anos de vida que o céu determinou conceder-vos, e carreguem com a pena da sua culpa os insolentes e atrevidos que a cometeram.
E mandou logo enforcar na verga os dois turcos, que tinham morto os seus dois soldados; mas o vice-rei pediu-lhe encarecidamente que os não enforcasse, porque o seu ato ainda fora mais de loucura, que de valentia. Fez o capitão-mor o que o vice-rei lhe pedia, porque se não executam bem as vinganças a sangue frio; procuraram logo ver como tirariam D. Gaspar Gregório do perigo em que se achava: ofereceu Ricote, para isso, mais de dois mil ducados, que tinha em pérolas e em joias; apresentaram-se muitos alvitres, mas o melhor de todos foi o do renegado espanhol, que se ofereceu para voltar a Argel, num barco pequeno duns seis bancos, tripulado com remeiros cristãos, porque sabia onde, como e quando podia e devia desembarcar, e também sabia a casa onde morava D. Gaspar Gregório. Hesitaram o capitão-mor e o vice-rei em se fiar no renegado e em lhe entregar cristãos remeiros; Ana Félix afiançou-o, e Ricote seu pai declarou que pagaria ele o resgate dos cristãos, se acaso se perdessem.