A minha observação ao nº. 427 de Park Lane pouco ajudou a resolver o problema que me interessava. A casa estava separada da rua por um muro baixo com um gradeamento que não ultrapassava a altura total de um metro e meio. Assim, era extremamente fácil alguém entrar no jardim, mas a janela era absolutamente inacessível, pois não existia qualquer algeroz que pudesse ser utilizado como apoio para subir, o que dificultaria a subida mesmo ao mais ágil dos homens. Mais intrigado que nunca, regressei a Kensington. Menos de cinco minutos depois de ter ido para o meu escritório, a criada entrou para me dizer que chegara uma pessoa que me queria falar. Para meu grande espanto, não era senão o estranho velho coleccionador de livros. O seu rosto fino e enrugado estava emoldurado por cabelos brancos e tinha os seus preciosos livros, pelo menos uma dúzia, debaixo do braço direito.
- Está surpreendido por me ver - disse, numa estranha voz enrouquecida.
Admiti que estava.
- Bom, sou um homem com consciência e, quando o vi entrar nesta casa enquanto vinha atrás de si, pensei para comigo, «vou entrar e falar com aquele bondoso senhor para lhe dizer que fui um tanto brusco, mas que não foi por mal, e agradecer-lhe por ter apanhado os meus livros.»
- O senhor está a dar demasiada importância a um mero incidente - respondi. - Posso perguntar-lhe como é que sabia quem eu era?
- Bom, se me permite a liberdade, sou seu vizinho, pois encontrará a minha pequena livraria na esquina de Church Street onde terei tido o prazer em recebê-lo. Talvez o senhor também seja um coleccionador.