Contou-nos então Rafael, como, depois da partida de Vespúcio, ele e os companheiros, que tinham ficado em Gulike, começaram pouco a pouco, com afabilidade e bom trato, a ganhar a amizade e o favor dos naturais da região, acabando por viver entre eles, em paz e em boas relações de comércio. Contou-nos também como tinham conseguido o afecto e confiança de um homem ilustre e poderoso (cujo nome e país não recordo já) que, generosamente, lhes custeou, a si e aos cinco companheiros, tudo o que precisavam para seguir viagem. Dando-lhes ainda um guia para os acompanhar, por terra e por mar, e os apresentar a outros príncipes, com as melhores recomendações.
Depois de caminharem durante vários dias, encontraram cidades e povoações, repúblicas bem governadas, vastas e populosas.
E Rafael prosseguiu a sua narração: no equador, abrangido em ambos os lados pelo movimento do Sol, viram vastos desertos e solidões, queimados e ressequidos por calor incessante e intolerável. Tudo ali era desagradável, horrível e difícil de suportar; tudo era desmesura e desordem. A terra era habitada por animais ferozes e serpentes, ou quando muito por homens mais selvagens e cruéis que os bichos. À medida que se afastavam do equador, a natureza recuperava pouco a pouco a beleza e tornava-se mais agradável, o ar temperava-se e o calor atenuava-se; a terra cobria-se de vegetação cada vez mais verde e os animais perdiam a ferocidade. Chegaram, por fim, às cidades e gentes