A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 52 / 133

Outros rochedos ficam ocultos sob a água e são, por tal razão, muito perigosos. Só os naturais da ilha conhecem os passos navegáveis. Por isso, quase nenhum navio estrangeiro se atreve' a penetrar no porto sem um piloto utopiano. Aos próprios habitantes se tornaria perigosa a entrada, se não tivessem, na costa, certos pontos de referência que os orientassem. A simples mudança ou deslocação de tais sinais para outros locais faria que os navios inimigos, por mais numerosos, fossem destruídos. O círculo exterior da ilha possui também numerosos portos, mas " tão bem defendidos pela natureza e pelo trabalho do homem que basta um pequeno número de defensores para impedir o desembarque dos maiores exércitos.

A crer no que dizem, e que, aliás, em parte, é confirmado pela configuração do território, nem sempre a Utopia foi uma ilha. Foi o rei Utopos que dela se apoderou e lhe deu o nome (pois até aí se chamava Abraxa), transformando o povo rude e selvagem que a habitava num povo com uma civilização perfeita, que em muitos pontos ultrapassa a de todos os outros povos.

Logo que penetrou na então península e, vencedor, se apoderou dela, ordenou que se cavasse e se cortasse um istmo de quinze milhas de comprimento que ligava a península a outras terras. Assim, o mar cercou a terra da Utopia. Empregou nesta tarefa não só os habitantes da ilha, como os seus próprios soldados, a fim de os primeiros não pensarem que impusera tal trabalho como humilhação e insulto. Tão grande era o número de braços que o trabalho se concluiu com extrema e surpreendente brevidade. De tal modo que nos povos





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