O Cortiço - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 167 / 239

— Ah! és tu, seu galego? Como vai isso? A ladroeira corre?

— Ladroeira tinha a avó na cuia! Anda a tomar alguma coisa. Queres?

— Que há de ser?

— Cerveja. Vai?

— Vá lá.

Chegaram-se para o balcão.

— Uma Guarda-Velha, ó pequeno! gritou o Pataca.

Firmo puxou logo dinheiro para pagar.

— Deixa! disse o outro. A lembrança foi minha!

Mas, como Firmo insistisse, consentiu-lhe que fizesse a despesa.

E os níqueis do troco rolaram no chão, fugindo por entre os dedos do mulato, que os tinha duros na tensão muscular da sua embriaguez.

— Que horas são? perguntou Pataca, olhando quase de olhos fechados o relógio da parede. Oito e meia. Vamos a outra garrafa, mas agora pago eu!

Beberam de novo, e o coadjutor de Jerônimo observou depois:

— Você hoje ferrou-a deveras! Estás que te não podes lamber!

— Desgostos... resmungou o capoeira, sem conseguir lançar da boca a saliva que se lhe grudava à língua.

— Limpa o queixo que estás cuspido. Desgostos de quê? Negócios de mulher, aposto!

— A Rita não me apareceu hoje, sabes? Não foi e eu bem calculo por quê!

— Por quê?

— Porque a peste do Jerônimo voltou hoje à estalagem!

— Ahn! não sabia!... A Rita está então com ele?...

— Não está, nem nunca há de estar, que eu daqui mesmo vou à procura daquele galego ordinário e ferro-lhe a sardinha no pandulho!

— Vieste armado?

Firmo sacou da camisa uma navalha.

— Esconde! não deves mostrar isso aqui! Aquela gente ali da outra mesa já não nos tira os olhos de cima!

— Estou-me ninando pra eles! E que não olhem muito, que lhes dou uma de amostra!

— Entrou um urbano! Passa-me a navalha!

O capadócio fitou o companheiro, estranhando o pedido.

— É que, explicou aquele, se te prenderem não te encontram ferro...

— Prender a quem? a mim? Ora, vai-te catar!

— E ela é boa? Deixa ver!

— Isto não é coisa que se deixe ver!

— Bem sabes que não me entendo com armas de barbeiro!

— Não sei! Esta é que não me sai das unhas, nem para meu pai, que a pedisse!





Os capítulos deste livro