de uma casa em construção na Travessa da Passagem, e que no seguinte oferecendo-se de porta em porta, para alugar-se de criada ou de ama-seca, encontrou um velho solteiro e agimbado que a tomou ao seu serviço e meteu-se com ela.
— Bom! muito bom! anuiu Pataca.
Mas o diabo do velho era um safado; dava-lhe muita coisa, dinheiro até, trazia-a sempre limpa e de barriga cheia, sim senhor! mas queria que ela se prestasse a tudo! Brigaram. E, como o vendeiro da esquina estava sempre a chamá-la para casa, um belo dia arribou, levando o que apanhara ao velho.
— Estás então agora com o da venda?
Não! O tratante, a pretexto de que desconfiava dela com o Bento marceneiro, pô-la na rua, chamando a si o que a pobre de Cristo trouxera da casa do outro e deixando-a só com a roupa do corpo e ainda por cima doente por causa de um aborto que tivera logo que se metera com semelhante peste. O Bento tomara-a então à sua conta, e ela, graças a Deus, por enquanto não tinha razões de queixa.
O Pataca olhou em torno de si com o ar de quem procura alguém, e Florinda, supondo que se tratava do seu homem, acrescentou:
— Não está cá, está lá dentro. Ele, quando joga, não gosta que eu fique perto; diz que encabula.
— E tua mãe?
— Coitada! foi pro hospício...
E passou logo a falar a respeito da velha Marciana; o Pataca, porém, já lhe não prestava atenção, porque nesse momento acabava de abrir-se a cortina vermelha, e Firmo surgia muito ébrio, a dar bordos, contando, sem conseguir, uma massagada de dinheiro, em notas pequenas, que ele afinal entrouxou num bolo e recolheu na algibeira das calças.
— Ó Porfiro! não vens? gritou lá para dentro, arrastando a voz.
E, depois de esperar inutilmente pela resposta, fez alguns passos na sala.
O Pataca deu à Florinda um “até logo” rápido e, fingindo-se de novo muito bêbedo, encaminhou-se na direção em que vinha o mulato.
Esbarraram-se.
— Oh! Oh! exclamou o Pataca. Desculpe!
Firmo levantou a cabeça e encarou-o com arrogância; mas desfranziu o rosto logo que o reconheceu.