— E porque não tens confiança em mim!
— Confio nos meus dentes, e esses mesmo me mordem a língua!
— Sabes quem vi ainda há pouco? Não és capaz de adivinhar!...
— Quem?
— A Rita.
— Onde?
— Ali na Praia da Saudade.
— Com quem?
— Com um tipo que não conheço...
Firmo levantou-se de improviso e cambaleou para o lado da saída.
— Espera! rosnou o outro, detendo-o. Se queres vou contigo; mas é preciso ir com jeito, porque, se ela nos bispa, foge!
O mulato não fez caso desta observação e saiu a esbarrar-se por todas as mesas. Pataca alcançou-o já na rua e passou-lhe o braço na cintura, amigavelmente.
— Vamos devagar... disse; se não o pássaro se arisca!
A praia estava deserta. Caia um chuvisco. Ventos frios sopravam do mar. O céu era um fundo negro, de uma só tinta; do lado oposto da bala os lampiões pareciam surgir d’água, como algas de fogo, mergulhando bem fundo as suas trêmulas raízes luminosas.
— Onde está ela? perguntou o Firmo, sem se aguentar nas pernas.
— Ali mais adiante, perto da pedreira. Caminha, que hás-de ver!
E continuaram a andar para as bandas do hospício. Mas dois vultos surdiram da treva; o Pataca reconheceu-os e abraçou-se de improviso ao mulato.
— Segurem-lhe as pernas! gritou para os outros.
Os dois vultos, pondo o cacete entre os dentes, apoderaram-se de Firmo, que bracejava seguro pelo tronco.
Deixara-se agarrar — estava perdido.
Quando o Pataca o viu preso pelos sovacos e pela dobra dos joelhos, sacou-lhe fora a navalha.
— Pronto! Está desarmado!
E tomou também o seu pau.
Soltaram-no então. O capoeira, mal tocou com os pés em terra, desferiu um golpe com a cabeça, ao mesmo tempo que a primeira cacetada lhe abria a nuca. Deu um grito e voltou-se cambaleando. Uma nova paulada cantou-lhe nos ombros, e outra em seguida nos rins, e outra nas coxas, outra mais violenta quebrou-lhe a clavícula, enquanto outra logo lhe rachava a testa e outra lhe apanhava a espinha, e outras, cada vez mais rápidas, batiam de novo nos