A Escrava Isaura - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 10 / 185

De volta da Europa, Leóncio contava vinte e cinco anos. O pai advertiu-lhe com palavras insinuantes e jeitosas, que já era tempo de empregar-se em alguma coisa, de abraçar alguma carreira; que já se tinha aproveitado da bolsa paterna mais do que era preciso para sua educação, e que era mister ir aprendendo se não a aumentar, ao menos a conservar uma fortuna, à testa da qual teria de achar-se mais tarde ou mais cedo. Depois de muita hesitação, Leôncio optou enfim pela carreira do comércio que lhe pareceu ser a mais independente e segura de todas; mas as suas ideias largas e audaciosas a este respeito aterraram o bom do comendador. O comércio de importação e exportação de gêneros, mesmo em larga escala, o próprio tráfego de africanos, lhe pareciam especulações degradantes e impróprias de sua alta posição e esmerada educação. O negócio de balcão e a retalho, esse inspirava-lhe asco e compaixão. Só lhe convinham as altas especulações cambiais, as operações bancárias e transações em que jogasse com avultados capitais. Só assim poderia duplicar em pouco tempo a fortuna paterna. Com o que tinha observado na Bolsa de Paris e em outras praças europeias, presumia-se com habilitação bastante para dirigir as operações do mais importante estabelecimento bancário, ou as mais grandiosas empresas industriais.

O pai porém não se animou a confiar sua fortuna aos azares especulativos daquele financeiro em botão, e que até ali só tinha dado provas de grande talento para consumir, em pouco tempo e em pura perda, somas consideráveis. Resolveu portanto a não tocar-lhe mais naquele assunto, esperando que o mancebo criasse mais algum juízo.





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