A Escrava Isaura - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 47 / 185

As escravas todas levantaram-se e tomaram a bênção ao feitor. Este mandou colocar a roda em um espaço desocupado, que infelizmente para Isaura ficava ao pé de Rosa.

- Anda cá, rapariga; - disse o feitor voltando-se para Isaura. -De hoje em diante é aqui o teu lugar; esta roda te pertence, e tuas parceiras que te dêem tarefa para hoje. Bem vejo que te não há-de agradar muito a mudança; mas que volta se lhe há de dar?... teu senhor assim o quer. Anda lá; olha que isto não é piano, não; é acabar depressa com a tarefa para pegar em outra. Pouca conversa e muito trabalhar...

Sem se mostrar contrariada nem humilhada com a nova ocupação, que lhe davam, Isaura foi sentar-se junto a roda, e pôs-se a prepará-la para dar começo ao trabalho. Posto que criada na sala e empregada quase sempre em trabalhos delicados, todavia era ela hábil em todo o gênero de serviço doméstico: sabia fiar, tecer, lavar, engomar, e cozinhar tão bem ou melhor do que qualquer outra. Foi pois colocar-se com toda a satisfação e desembaraço entre as suas parceiras; apenas notava-se no sorriso, que lhe adejava nos lábios, certa expressão de melancólica resignação; mas isso era o reflexo das inquietações e angústias, que lhe oprimiam o coração, que não desgosto por se ver degradada do posto que ocupara toda sua vida junto de suas senhoras. Cônscia de sua condição, Isaura procurava ser humilde como qualquer outra escrava, porque a despeito de sua rara beleza e dos dotes de seu espirito, os fumos da vaidade não lhe intumesciam o coração, nem turvavam-lhe a luz de seu natural bom senso.





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