Mas nhonhô não esteve por isso, ficou muito zangado, e tocou o feitor para fora. Também Juliana pouco durou; pirai e serviço deu co'ela na cova em pouco tempo. Picou aí a pobre menina ainda de mama, e se não fosse sinhá velha, que era uma santa mulher, Deus sabe o que seria dela!... também, coitada!... antes Deus a tivesse levado!...
- Por quê, tia Joaquina?...
- Porque está-me parecendo, que ela vai ter a mesma sina da mãe...
- E o que mais merece aquela impostora? - murmurou a invejosa e malévola Rosa. - Pensa que por estar servindo na sala é melhor do que as outras, e não faz caso de ninguém. Deu agora em namorar os moços brancos, e como o pai diz que há de forrar ela, pensa que e uma grande senhora. Pobre do senhor Miguel!... não tem onde cair morto, e há de ter para forrar a filha!
- Que má língua é esta Rosa! - murmurou enfadada a velha crioula, relanceando um olhar de repreensão sobre a mulata. - Que mal te fez a pobre Isaura, aquela pomba sem fel, que com ser o que e, bonita e civilizada como qualquer moça branca, não é capaz de fazer pouco caso de ninguém?... Se você se pilhasse no lugar dela, pachola e atrevida como és, havias de ser mil vezes pior. Rosa mordeu os beiços de despeito, e ia responder com todo o atrevimento e desgarre, que lhe era próprio, quando uma voz áspera e atroadora, que, partindo da porta do salão, retumbou por todo ele, veio pôr termo à conversação das fiandeiras.
- Silêncio! - bradava aquela voz. - Arre! que tagarelice!... parece que aqui só se trabalha de língua!...
Um homem espadaúdo e quadrado, de barba espessa e negra, de fisionomia dura e repulsiva, apresenta-se à porta do salão, e vai entrando. Era o feitor. Acompanhava-o um mulato ainda novo, esbelto e aperaltado, trajando uma bonita libré de pajem, e conduzindo uma roda de fiar. Logo após eles entrou Isaura.