A Escrava Isaura - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 49 / 185

É assim que o paciente se esquece do juiz, que lavrou a sentença para revoltar-se contra o algoz, que a executa. Como já dissemos, coube em sorte a Isaura sentar-se perto de Rosa. Esta assestou logo contra sua infeliz companheira a sua bateria de ditérios e remoques sarcásticos e irritantes.

- Tenho bastante pena de você, Isaura. - disse Rosa para dar começo às operações.

- Deveras! - respondeu Isaura, disposta a opor às provocações de Rosa toda a sua natural brandura e paciência. - Pois por quê, Rosa?...

- Pois não é duro mudar-se da sala para a senzala, trocar o sofá de damasco por esse cepo, o piano e a almofada de cetim por essa roda? Por que te enxotaram de lá, Isaura?

- Ninguém me enxotou, Rosa; você bem sabe. Sinhá Malvina foi-se embora em companhia de seu irmão para a casa do pai dela. Portanto nada tenho que fazer na sala, e é por isso que venho aqui trabalhar com vocês.

- E por que é que ela não te levou, você, que era o ai-jesus dela?... Ah! Isaura, você cuida que me embaça, mas está muito enganada; eu sei de tudo. Você estava ficando muito aperaltada, e por isso veio aqui para conhecer o seu lugar

- Como és maliciosa! - replicou Isaura sorrindo tristemente, mas sem se alterar; pensas então que eu andava muito contente e cheia de mim por estar lá na sala no meio dos brancos?... como te enganas!... se me não perseguires com a tua má língua, como principias a fazer, creio que hei de ficar mais satisfeita e sossegada aqui.

- Nessa não creio eu; como é que você pode ficar satisfeita aqui, se não acha moços para namorar?

- Rosa, que mal te fiz eu, para estares assim a amofinar-me com essas falas?...

- Olhe a sinhá, não se zangue!... perdão, dona Isaura; eu pensei que a senhora tinha esquecido os seus melindres lá no salão.





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