Maria Moisés - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 74 / 86

– Nada, não é; chama-se o Bragadas, e nasceu nesta freguesia. Ainda há dias vi no livro dos baptizados que ele já fez oitenta anos. Mas há aqui um caso que parece conto de romance. O Bragadas é hoje caseiro da mesma enjeitada que ele achou!

– Como?! – exclamou António de Queirós.

– Tem razão de se espantar, meu senhor; mas a verdade é esta. O enjeitado era uma menina de que tomaram conta os fidalgos, que a baptizaram com o nome de Maria Moisés, por ter sido achada no rio como o santo legislador dos Hebreus. Depois, uma das senhoras, que foi madrinha, deixou-lhe a quinta de Santa Eulália. Saiu um anjo a criatura de Deus; chamam-lhe a mãe dos pobres; e recolhe, ensina e dá modo de vida a quantos órfãos e enjeitados a mão da desgraça lhe leva ao seu regaço...

– Parece – atalhou o general – que são muitas as probabilidades a confirmar a hipótese de que essa enjeitada seja filha de Josefa... Não concorda comigo?

– Eu já disse a V. S.ª que todos os juízos temerários são venialmente pecaminosos quando redundam em desdouros de vivos, e muito mais de mortos que não podem justificar-se. Não sei... E o que eu não sei, para mim é apenas possível. Seja de quem for filha, Maria Moisés é uma mulher que faz lembrar as antigas santas.

– Conhece-a, senhor reitor?

– Nunca a vi, mas ouço dizer que tem no rosto a formosura da alma, e que parece ter vinte anos, andando já perto dos quarenta; sim, não há-de ir longe... de 1813 a 1850...





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