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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 75

– Trinta e sete.

– É isso, trinta e sete. Pena é que os poucos recursos lhe não permitam ir tão longe como o coração lhe pede. Alargou mais do que podia a área da caridade. Acudia a todas as desgraças com mais liberalidade que prudência. A santa cegueira não lhe deixava prever os limites das suas medianas posses. Os rendimentos da quinta são escassos e talvez mal pagos pelo caseiro a quem ela não pede contas, ou aceita as que ele quer dar-lhe, porque foi ele quem a salvou. A pouco podiam montar. Verdade é que um cónego de Braga, santo homem que eu conheci, lhe deixou alguns mil cruzados com que ela custeou por bastantes anos as despesas de alimentação e educação de enjeitados e órfãos. Afinal, o dinheiro acabou- se, mas a caridade na alma da santa mulher é que não esmoreceu. Não pede nada; mas, se sabe que um fidalgo ou abade rico ou viúvo sem filhos está no caso de poder aceitar-lhe um órfão ou enjeitado, escreve-lhe a pedir pelo amor de Deus que o aceite e sustente com migalhas da sua mesa. E assim tem conseguido arranjar bastantes; e dalguns se conta que foram para o Brasil e lá estão bem encaminhados.

– Sabe então o senhor reitor que Maria Moisés está pobre agora?

– Pobre de todo não direi, porque a suprema riqueza é a graça de Deus; mas necessitada de recursos para continuar a sua santa dedicação aos infelizes, com certeza está; porque eu sei que ela deve mais de três mil cruzados a várias confrarias; e na porta da minha igreja está um aviso anunciando que quem quiser comprar a quinta de Santa Eulália fale com a dona da mesma. É uma bonita propriedade; mas ninguém lhe dá o que ela vale, porque não há dinheiro, e quem o tem fecha-se com ele, por medo das revoluções que são umas atrás das outras. Os cabralistas querem dinheiro, os patuleias querem dinheiro, agora dizem que os saldanhistas vão sair com a procissão porque querem dinheiro, e quem não for uma das três cousas há-de pagar para todos os três partidos. Eu não sei com quem tenho a honra de falar, mas sou franco; o que eu digo é que Deus traga o Sr. D. Miguel I a ver se Portugal se endireita de vez.

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Capa do livro Maria Moisés
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