A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 118 / 359

- Quanto ao resto, somos demasiado chegados para dormir juntos, embora possamos ficar um perto do outro

As suas palavras deram ao acaso um aspecto de honestidade, e quando chegou a hora de nos deitarmos, o meu amigo saiu decentemente do quarto, enquanto eu me metia na cama, e depois deitou-se na sua, no seu lado do quarto, mas ficou muito tempo a conversar comigo.

Por fim, repetindo a afirmação habitual de que seria capaz de se deitar nu comigo sem me macular, saiu da cama e acrescentou:

- E agora, minha querida, verá como serei leal consigo e como cumprirei a minha palavra. - E foi para a minha cama.

Resisti um pouco, mas confesso que não teria resistido muito se não houvesse feito tais promessas; assim, após uma breve luta; sosseguei deixei-o deitar-se. Tomou-me então nos braços e dessa maneira me conservou toda a noite, mas não foi mais longe nem tentou mais que abraçar-me, como dissera. De manhã levantou-se e vestiu-se, deixando-me tão pura de si como me encontrava no dia em que nasci.

Confesso que foi uma surpresa para mim e calculo que o seja para outros, conhecedores das leis da natureza, visto tratar-se de um homem forte, vigoroso e viril. Não se julgue, porém, que procedeu assim em obediência a qualquer princípio religioso, pois fê-lo apenas por simples afeição, afirmando que, embora fosse para ele a mulher mais atraente do mundo, não podia macular-me, precisamente por tanto me querer.

Concordo que fosse um nobre princípio, mas, como nunca tivera conhecimento de procedimento igual, confesso que me sentia intrigada. Fizemos o resto da viagem da mesma maneira e regressámos a Bath, onde, como tinha ensejo de estar comigo quando lhe aprazia, repetiu muitas vezes a atitude comedida de Gloucester e dormimos frequentemente juntos.





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