Passado algum tempo recuperou forças e ficou muito melhor, mas não consentiu que retirasse o meu catre, como eu desejava, só o permitindo quando se sentiu capaz de ficar sozinho, sem ninguém a fazer-lhe companhia. Regressei então ao meu quarto.
Aproveitava todos os ensejos para me afirmar quanto apreciava a minha ternura e a minha preocupação por ele e, quando se achou curado, deu-me cinquenta guinéus de presente pelos meus cuidados e, como disse, por ter arriscado a minha vida para salvar a sua.
Jurava-me sincera e inviolável afeição, mas garantia sempre que não deixava de ter o máximo respeito pela minha virtude e pela sua, do que lhe dizia estar absolutamente convencida. Levava isso tão a peito que, afirmava, se se deitasse nu comigo, consideraria a minha virtude tão sagrada como se tivesse de a defender dos ataques de um violador. Disse-lhe que o acreditava, mas isso não o satisfez e declarou-me que aguardaria uma oportunidade de mo provar sem sombra de dúvida.
Foi passado muito tempo que tive ocasião de ir a Brístol, para tratar dos meus negócios, e ele alugou uma carruagem e fez questão de ir comigo. A nossa intimidade aumentou então. De Brístollevou-me a Gloucester, numa viagem de prazer, para tomar ares, e quis o acaso que na estalagem não houvesse aposentos para nós, mas apenas um grande quarto com duas camas. O estalajadeiro subiu para no-lo mostrar e disse-lhe franca- mente:
- Não é da minha conta perguntar-lhe, senhor, se a dama é sua esposa ou não, mas, se o não for, poderão dormir nestas duas camas tão honestamente como se estivessem em quartos separados. - E, a confirmar as suas palavras, puxou uma grande cortina que dividiu o aposento em dois, ficando uma cama de cada lado.
- As camas servem - declarou o meu amigo, sem hesitar.
