Vivemos assim, quase dois anos, durante os quis foi três vezes a Londres, demorando-se de uma delas quatro meses, mas, a verdade seja dita, deixou-me sempre dinheiro suficiente para me manter com dignidade.
Se continuássemos a proceder desse modo, confesso que teríamos muito de que nos vangloriar, mas, como dizem as pessoas sensatas, é mau levar demasiado longe as tentações, e tivemos a prova disso. Para lhe fazer justiça, porém, devo confessar que a primeira quebra do compromisso não partiu dele, mas de mim, em certa noite que nos deitámos os dois, quentes e alegres e tendo bebido um pouco mais de vinho do que era habitual, embora não tanto que nos transtornasse a cabeça. Apertada nos seus braços, depois de certas loucuras que não posso descrever, disse-lhe, repito-o com vergonha e horror, que o meu coração consentia em desobrigá-lo da sua promessa apenas por uma noite, nada mais.
Pegou-me imediatamente na palavra e, depois disso, não me foi possível resistir-lhe, nem, confesso-o, era minha intenção fazê-lo, fossem quais fossem as consequências.
Assim se quebrou o encanto da nossa virtude e eu troquei o título de amigo pelo apodo dissonante e desagradável de amante. De manhã arrependemo-nos ambos; eu chorei desesperadamente e ele afirmou que la- mentava muito; mais, ai de nós!, nada mais podíamos fazer. Aberto, assim, o caminho e removidas as barreiras da virtude e da consciência, menos obstáculos tivemos depois de vencer.
Durante o resto da semana a nossa conversa foi muito melancólica e insípida.