A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 226 / 359

Obrigada, por essa circunstância, a fazer tudo de maneira desajeitada, não tinha nem o êxito nem a facilidade de fuga anteriores e resolvi, portanto, desistir, resolução confirmada pouco depois pelo acidente que vou narrar.

Como me disfarçara de homem, a minha governanta juntou-me a outro homem, um jovem bastante ágil e desembaraçado no ofício, e durante cerca de três semanas tudo nos correu muito bem. A nossa principal ocupação consistia em vigiar balcões de lojas e deitar a mão a todas as mercadorias que víssemos descuidadamente abandonados, e nisso fizemos bons negócios, como dizíamos. Tornámo-nos muito íntimos, em virtude de andarmos sempre juntos, mas ele nunca soube que eu não era um homem. Embora tivesse ido várias vezes a sua casa, de acordo com as exigências do trabalho, e houvesse até, quatro ou cinco vezes, dormido com ele toda a noite. Os nossos interesses eram outros e, portanto, tornava-se absolutamente imperioso que lhe ocultasse o meu sexo, como depois se verificou. As circunstâncias da nossa vida, o recolher tardio e os negócios que exigiam que ninguém entrasse nos nossos aposentos, impossibilitavam-me de me recusar a dormir com ele, a não ser que lhe revelasse o meu sexo, o que por nada faria. Mas a sua pouca sorte e a minha boa fortuna não tardaram a pôr fim a essa vida, de que, confesso estava farta por variadas razões. Tínhamo-nos já apropriado juntos de várias presas, mas a última teria sido extraordinária.

Havia em determinada rua uma loja com um armazém nas traseiras que dava para outra rua, pois a casa formava gaveta. Através da janela do armazém vimos, no balcão que ficava logo pegado, cinco peças de seda além de outras mercadorias, e, embora fosse quase noite, os empregados, atarefados na loja da frente com os clientes, ou não tinham tido tempo ou haviam-se esquecido de fechar a janela.





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